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segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Evangelho VI Domingo do Tempo Comum – Ano B – Mc 1, 40-45

Comentário ao Evangelho — 6º Domingo do Tempo Comum – Ano B – Mc 1, 40-45
Naquele tempo, 40 um leproso chegou perto de Jesus, e de joelhos pediu: “Se queres, tens o poder de curar-me”. 41 Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele, e disse: “Eu quero: fica curado!” 42 No mesmo instante, a lepra desapareceu, e ele ficou curado. 43 Então Jesus o mandou logo embora, 44 falando com firmeza: “Não contes nada disso a ninguém! Vai, mostra-te ao sacerdote e oferece, pela tua purificação, o que Moisés ordenou, como prova para eles!” 45 Ele foi e começou a contar e a divulgar muito o fato. Por isso Jesus não podia mais entrar publicamente numa cidade: ficava fora, em lugares desertos. E de toda parte vinham procurá-Lo.
Qual a pior das lepras?
A “lepra” da alma é mais contagiosa e terrível do que o mal de Hansen. Ela arranca a paz da consciência, torna amarga a vida e prepara a morte eterna. Se fosse tão visível quanto a lepra física, quão mais repulsiva seria aos nossos olhos!
Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP
I – Onipotência do verbo
Jesus Cristo fez notar Sua humanidade nascendo numa gruta em Belém, em sua fome, sede ou cansaço, e até mesmo quando dormiu na barca. Por outro lado, manifestou Sua divindade através dos incontáveis milagres realizados, por exemplo, quando acalmou os ventos e os mares pelo império de Sua voz, ou quando ressuscitou Lázaro. Enquanto Ser infinito, Ele é todo-poderoso,1 e por isso, excluído o que seja contraditório, todos os possíveis são objeto do Seu poder. “Onipotente” é o nome próprio de Deus (cf. Gn 17, 1), pois Sua Palavra é suficiente, em si, para produzir todas as criaturas (cf. Gn 1, 3-30).
Os milagres de Jesus são prova de Sua divindade
Ora, segundo nos ensina São Tomás, pelo fato de Sua natureza humana estar unida à divina, Jesus recebeu enquanto Homem a mesma onipotência que o Filho de Deus tem desde toda eternidade, pois ambas as naturezas possuem hipostaticamente uma só e única Pessoa.2 A própria alma adorável de Cristo, enquanto instrumento do Verbo — e não por si só — tem todo poder.3 Essa é a razão pela qual Cristo Jesus dominava qualquer enfermidade (cf. Mt 8, 8), perdoava os pecados (cf. Mt 9, 6; Mc 2, 9-11), expulsava os demônios (cf. Mc 3, 15), etc. Daí ter podido Ele afirmar: “Foi-Me dado todo o poder no Céu e na Terra” (Mt 28, 18); e mais tarde, São Paulo insistir nesse ponto fundamental de nossa fé: “Para nós, é força de Deus” (I Cor 1, 18); “Cristo é força de Deus e sabedoria de Deus” (I Cor 1, 24); e mais adiante: “também nos ressuscitará a nós com o Seu poder” (I Cor 6, 14).
A fé nessa onipotência de Deus permite-nos admitir mais facilmente as outras verdades e, de maneira especial, as ações que ultrapassam a ordem natural. A um Deus todopoderoso, são proporcionadas as obras excelentes e admiráveis: “Porque a Deus nada é impossível” (Lc 1, 37).
Diz-nos São Tomás de Aquino: “Pelo poder divino é concedido ao homem fazer milagres por duas razões: primeiro, e principalmente, para confirmar a verdade que alguém ensina. As coisas que pertencem à fé são superiores à razão humana e por isso não se podem provar com razões humanas; é preciso que se provem com demonstrações de poder divino. Deste modo, quando a pessoa realiza obras que só Deus pode realizar, pode-se crer que o que diz vem de Deus; como quando alguém apresenta um documento com o sigilo do rei, pode-se crer que o que no documento está contido provém da vontade do rei. Em segundo lugar, para mostrar a presença de Deus no homem pela graça do Espírito Santo. Quando a pessoa faz as obras de Deus, pode-se crer que Deus nela habita pela graça. Diz-se na Carta aos Gálatas: ‘Aquele que vos dá o Espírito e realiza milagres entre vós’ (Gl 3, 5).
Ora, em Cristo, uma e outra coisa era preciso demonstrar, a saber, que Deus nEle estava pela graça, não de adoção, mas de união; e que seu ensinamento sobrenatural provinha de Deus. Por isso, era de todo conveniente que Cristo fizesse milagres.
Ele próprio afirmou: ‘Se não quereis crer em Mim, crede em minhas obras’ (Jo 10, 38). E também: ‘As obras que meu Pai Me concedeu realizar, são elas que dão testemunho de Mim’ (Jo 5, 36)”.4 Esses são os motivos que levaram os Apóstolos a crer em Jesus depois do milagre por Ele operado nas Bodas de Caná da Galiléia (cf. Jo 2, 11); e muitos outros foram levados a crer, após a ressurreição de Lázaro (cf. Jo 11, 1-44).
Jesus mesmo chega a citar Suas obras como prova de Sua divindade: “Ide e contai a João o que ouvistes e o que vistes: os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são limpos, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam, o Evangelho é anunciado aos pobres” (Mt 11, 4-5). “As obras que faço em nome de meu Pai, estas dão testemunho de Mim. Se Eu não faço as obras de meu Pai, não Me creiais; mas se as faço, e se não quiserdes crer em Mim, crede nas minhas obras, para que saibais e reconheçais que o Pai está em Mim, e Eu no Pai” (Jo 10, 25.37-38).
A Igreja: um milagre permanentemente renovado
Sim, Jesus Cristo é o Filho de Deus vivo, tal qual afirmou Pedro em Cesareia de Filipe (cf. Mt 16, 16), e portanto, onipotente tanto quanto o Pai. Mas, entre a multidão de Seus milagres, qual teria sido o mais extraordinário? Difícil dizê-lo com plena segurança. Entretanto, uma hipótese não deixa de ter considerável substância e grande aparência de ser a mais provável.
A Santa Igreja passou por inúmeros dramas ao longo de seus vinte séculos de existência; dramas esses capazes de fazer desaparecer qualquer estado ou governo. Já em seus primórdios, teve ela de enfrentar o “fixismo” religioso do povo judeu.
A Redenção se operou no âmbito dessa nação: as primeiras ações, organizações, proselitismo foram efetuados por judeus — o próprio Fundador, os Apóstolos, etc. — e exclusivamente sobre os israelitas. Contudo, em se tratando de uma mentalidade blindada em suas próprias concepções, era de se temer que a Igreja viesse a ser sufocada no seu nascedouro. Quem poderia prever as decisões do primeiro concílio, o de Jerusalém, que recusa o judaísmo e se abre aos gentios? Se o Espírito Santo não tivesse inspirado os Apóstolos nesse sentido, quantos anos de vida teriam sido concedidos à Igreja?
Pari passu, surgiu a heresia da Gnose que comprazia às más inclinações daqueles tempos. Diziam seus adeptos terem recebido a missão de explicar e resolver o problema da existência do mal no mundo. Foi um grande perigo para a Igreja naquela quadra histórica.
Seria um não mais acabar, se procurássemos enumerar todos os ataques sofridos pela Igreja ao longo de seus dois milênios. Basta-nos recordar as perseguições romanas, a invasão dos bárbaros, o arianismo, os cátaros e albigenses, Avignon, o Renascimento, protestantismo e humanismo, a Revolução Francesa, o comunismo. Ou seja, a Santa Igreja vem recebendo os mais violentos ataques que a História tenha conhecido, quer externa quer internamente.
Porém, nunca se pôde dizer ter chegado o fim. Isto só se dará quando se cumprir a profecia de Jesus: “Será pregado este Evangelho do Reino por todo o mundo, em testemunho a todas as gentes; e então chegará o fim” (Mt 24, 14). Foi em função dessa profecia que Ele mandou os Doze irem ao mundo inteiro, para pregar e batizar, até mesmo em meio às perseguições, mas sempre convencidos de que “as portas do inferno não prevalecerão contra Ela” (Mt 16, 18).
Afirmou ainda, categoricamente, o Redentor: “Foi-me dado todo o poder no Céu e na Terra. [...] Eu estarei convosco todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28, 18.20). Vemos, nestes dois versículos, o quanto a Igreja existiu, existe e existirá sempre por um milagre permanentemente renovado pelas divinas e adoráveis mãos de seu Fundador.

É na consideração da onipotência divina, tão claramente comprovada pelos milagres do Homem Deus, Jesus Cristo, de maneira especial o da imortalidade da Santa Igreja, que se deve compreender a cura do leproso narrada no Evangelho deste 6º Domingo do Tempo Comum.
Continua no próximo post

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